SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com juro mensal de 15,14%, em média, o rotativo é o mais caro dos créditos a pessoas físicas. Por regra do BC, esta modalidade só pode ser utilizada até a próxima fatura. Ou seja, o rotativo só pode ser cobrado por, no máximo, 30 dias.
Após esse período, o montante devido entra no parcelamento automático, com juro de 8,86% ao mês, em média.
Isso significa que R$ 1.000 em atraso no cartão viram R$ 1.151,40 em 30 dias. No segundo mês de atraso, o total vai para R$ 1.253,41. São mais de R$ 250 apenas em juros. Sem falar no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) adicional e diário e na multa por atraso.
Porém, pela Lei do Desenrola, os juros aplicados ao montante devido não podem ultrapassar os 100%. Ou seja, o valor original da dívida pode, no máximo dobrar. Neste caso hipotético, a cobrança poderia ser de até R$ 2.000, independente de quanto tempo a fatura está em atraso.
Para evitar este gasto, especialistas recomendam a troca de dívida do cartão por um empréstimo mais barato. Porém, antes de contrair mais dívidas, é preciso organizar a vida financeira na ponta do lápis, separando os gastos por classe, como saúde, alimentação, moradia e mobilidade, com as sub-classes essencial e não essencial, como supermercado e delivery, por exemplo. Assim, é possível identificar o custo de vida e desenhar um plano de reestruturação e reorganização financeira.
“A primeira coisa é ver exatamente quanto entra e quanto sai no seu orçamento. Quando não se sabe o custo do padrão de vida, muito provavelmente vai se gastar mais do que tem”, diz Carlos Castro, planejador financeiro da Planejar.
Gustavo Riess, sócio e assessor de investimentos da Ável, vai na mesma linha. “Primeiro, é preciso ter clareza sobre o que está acontecendo e refletir sobre as próprias finanças.”
Depois dos ganhos e gastos identificados, é preciso entender a dívida e sua composição. Quanto se deve de compras parceladas e qual é o valor de juros e de encargos.
“Muita gente acha que deve X reais, quando na verdade boa parte disso já é custo por ter deixado de pagar no mês anterior. Sem esse raio-x, qualquer plano de quitação fica frágil”, diz Carol Stange, planejadora financeira.
Se o devedor tiver dinheiro investido, o recomendado é fazer o resgate para pagar a dívida, dizem os especialistas. Porém, se não houver uma reserva, é preciso desenhar um plano para ficar adimplente.
O indicado é mapear a capacidade real de pagamento, que é o valor mensal que é possível comprometer com esse pagamento, sem deixar de pagar necessidades básicas. “É esse valor que vai definir se a melhor saída será renegociar, parcelar ou buscar um crédito mais barato para substituir o rotativo”, afirma Carol.
O crédito pessoal e o crédito consignado são opções de empréstimo mais baratos que o juro do cartão de crédito em atraso. Segundo dados do BC, eles estão, em média, a 5,29% e a 1,99% ao mês, respectivamente. O custo varia de acordo com o banco, a modalidade do consignado (INSS, servidor ou CLT) e o cliente, então vale buscar a melhor oferta.
No caso do consignado, como as parcelas são descontadas direto do salário ou da aposentadoria, é importante calcular se elas não farão falta no mês, de modo a não se endividar novamente.
“É preciso tomar muito cuidado ao pegar um empréstimo para quitar a fatura do cartão para não entrar em um buraco cada vez maior”, diz Riess.
Os planejadores também ressaltam a importância de entrar em contato com a instituição financeira e negociar condições mais favoráveis.
“Os bancos preferem renegociar a correr o risco de inadimplência. Por isso, costumam oferecer alternativas como prazos mais longos, que aliviam o impacto no orçamento mensal, e, em alguns casos, até descontos em juros acumulados para facilitar a quitação”, afirma Carol.
Também vale pedir dinheiro emprestado a familiares ou amigos, desde que bem combinado. “Faça um contrato, não fique apenas na fala. Esse empréstimo pode gerar conflito e até ruptura na relação. Mesmo que esse contrato não tenha valor jurídico, ele terá valor moral”, diz Castro.
O planejador também indica os feirões de birôs de crédito que oferecem descontos.
Depois de quitar as dívidas, é importante manter hábitos financeiros saudáveis para evitar um novo endividamento.
“O brasileiro tende a considerar o limite do cartão como um complemento à renda, e cada um tem, em média, três cartões”, afirma Castro -segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da CNC (Confederação Nacional do Comércio), 79,2% das famílias brasileiras estão endividadas e 30,5% estão com contas em atraso. Já 13% não terão condições de pagar.
Dados do Banco Central mostram que a maior parte das faturas do cartão de crédito de pessoas físicas não são quitadas integralmente até o seu vencimento. Em agosto, 60,48% do valor que entrou no rotativo -modalidade acionada quando a fatura não é paga integralmente até o vencimento- não foi pago em 30 dias, entrando automaticamente no parcelamento da fatura.
Já o índice de atraso do parcelamento é de 13,21%. Ambos os percentuais de atraso são os maiores da série histórica, iniciada em 2011.
Se for difícil controlar os gastos no cartão de crédito, é possível reduzir o limite mensal, ou trocá-lo por um cartão pré-pago, em que o gasto é limitado ao valor de recarga. Outra dica é que se não for possível pagar a fatura do cartão na íntegra, opte por parcelá-la antes do vencimento, de modo a evitar o rotativo.
Além disso, especialistas aconselham que se continue economizando até construir uma reserva financeira que equivalha de seis a doze meses de gastos.
PASSO A PASSO PARA SAIR DO ROTATIVO:
Identificar e reestruturar o custo de vida;
Entenda a composição da dívida ;
Mapeie a capacidade real de pagamento;
Se tiver investimentos, resgate para pagar a dívida;
Senão, a troque por uma mais barata;
Mantenha hábitos financeiros saudáveis após quitar a dívida;
Construir uma reserva financeira de 6 a 12 meses de despesas.
















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