SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Antes mesmo de as portas do brechó Peça Rara se abrirem, neste sexta-feira (24), já havia uma animada fila formada à frente da loja. O motivo para o movimento bem acima do usual tem quatro letras: Hebe. Roupas e acessórios de Hebe Camargo estariam à venda e expostas para apreciação dos fãs.
Sob o sol, eles pareciam ansiosos e trocavam lembranças e expectativas, todos com o mesmo objetivo: levar para casa “um pedacinho” ou “uma lembrança”, como foi bastante repetido ali, da rainha da televisão brasileira. Hebe morreu em 2012, aos 83 anos, e deixou um vasto (e grifado) guarda-roupa com peças icônicas, além de uma coleção de joias da qual ela sempre se orgulhou.
Em meio a araras com calças animal print Roberto Cavalli (à venda por cerca de R$ 350), camisas de babados, peças de grifes como Dolce & Gabbana e Kenzo, jaquetas de marcas como St. John Sport e Lolita Límpida, estavam algumas relíquias pessoais da apresentadora -apenas para exposição e deleite dos fãs-, como um casaco amarelo com gola de pelos, outro vermelho de pele e um conjunto floral de tule assinado por John Galliano.
Cada peça à venda trazia uma etiqueta branca com o nome “Hebe Camargo” e preços que variavam de R$ 49 a R$ 4.000.
As bijuterias, cobiçadas entre os visitantes, esgotaram antes mesmo de serem colocadas nas prateleiras. O pessoal estava ávido por elas e, por isso, os organizadores precisaram impor a regra de um acessório por cliente. Durante o dia, novas peças foram sendo repostas aos poucos para garantir que o maior número de visitantes pudesse encontrar algo.
Entre os primeiros da fila estava Rodrigo Faria, 30, analista de RH que ostenta no antebraço uma tatuagem com o logotipo do programa de Hebe. “Cresci assistindo com a minha mãe. A Hebe fazia parte das nossas noites.”
Ele relembra que, quando a apresentadora morreu, em 2012, saiu de Campinas direto para o velório: “Disse para o meu chefe que tinha perdido alguém muito especial. Quando ele pediu o atestado de óbito, falei: ‘Fui ao enterro da Hebe’. No fim, deu tudo certo.” Desta vez, ele queria qualquer lembrança, nem que fosse um chaveiro ou uma blusa furada, como brincou.
A movimentação reuniu fãs de várias cidades, gêneros e gerações. Juliana Frederigi Rodrigues, 38, veio de São Bernardo do Campo e se lembrou da infância no na zona rural de Brotas. “Lá em casa só pegava SBT, e era sagrado assistir ao programa. Quando a Xuxa e as Chiquititas foram no programa, eu chorei. Ela é referência para gerações passadas, atuais e futuras”, disse, emocionada. “Qualquer coisinha que me dê o conforto de ter um pouquinho da Hebe em casa já vale.”
A auxiliar de dentista Kátia Bottesini, 49, desempregada, também esperava levar algo simbólico. “Nunca fui ao programa, mas cresci assistindo. Quero qualquer peça, até um utensílio, sendo da Hebe, já vale o carinho.”
Ao lado dela, a dentista Adriana Espada, 42, contou que estava muito animada desde que descobriu que o evento aconteceria. “Nem dormimos de ansiedade. A Hebe era uma referência de mulher autêntica e alegre. Ela representava a felicidade sem culpa”. Ela disse que veio sem limites para gastar e que quando gosta de algo não poupa.
A drag queen Tchaka, 55, colorida dos pés à cabeça, também marcou presença e queria trazer algo especial para seus looks. “Eu tenho um pouquinho de Hebe toda vez que subo no palco”, disse. “Ela é minha referência de brilho, de energia e de amor ao público. Estar com uma peça dela é como carregar um amuleto da sorte.”
O filho da apresentadora, Marcello Camargo, acompanhava a movimentação de perto, emocionado. “Superou todas as expectativas. É lindo ver esse amor, essa loucura boa das pessoas querendo uma lembrança dela.” Segundo ele, embora a mãe nunca tenha falado sobre o destino de suas roupas, o evento reflete o espírito dela: “Era muito desapegada. Fazia sacos de roupa e dava para as sobrinhas. Esse desapego está presente aqui. Tenho certeza de que ela está feliz com isso.”
Marcello ressalta que os vestidos usados em programas e premiações continuam no acervo da família, preservados para exposições itinerantes.
A parceria com o Peça Rara partiu dele e da fundadora da rede, Bruna Vasconi. O evento na véspera havia sido reservado a convidados e celebridades -entre elas, Deborah Secco, sócia do brechó-, e já causou furor entre os convidados.
Mas o público desta sexta-feira. “Sabíamos que haveria emoção, mas não imaginávamos essa dimensão. Vieram pessoas de vários estados, algumas mandadas por parentes. Muita gente compra para emoldurar ou dar de presente”, contou Bruna.
Cerca de 500 peças foram catalogadas entre roupas, bolsas, sapatos e acessórios. Parte da renda será destinada ao Teleton, causa escolhida por Marcello. Não há prazo para o fim das vendas, as peças ficarão disponíveis enquanto o estoque durar.
Ao fim da tarde, Rodrigo, o fã tatuado, conseguiu o que queria: uma regata de paetê preto e branco e uma calça jeans bordada, que planeja emoldurar. “É meu presente de aniversário.” Já o cantor Eduardo Mangga, 34, que veio da cidade de Caçapava para o brechó, comprou uma jaqueta jeans com pelinhos como presente de 4 anos de casamento para o marido e uma camisa rosa para a mãe.
Enquanto a fila no caixa se formava, Adriana Espada equilibrava uma pilha de roupas. “Devo ter gastado uns R$ 10 mil”, brincou. Ela já planeja usar um conjunto marrom na sua próxima viagem no fim do ano. A médica Marina Marcato, 31, saiu com uma camiseta e uma estola marrom, pelas quais pagou R$ 650.
Ela ponderou que, além do valor sentimental de agora ter no armário peças que foram de alguém que sempre idolatrou, as roupas saíram mais barato do que se tivessem sido compradas novas em uma loja. Era esse o sentimento reinante entre os fãs de Hebe que foram ao brechó no dia de abertura das portas da venda especial de parte do acervo da apresentadora.
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